A reação dos vietnamitas pode ter sido exagerada, mas ela deve ser vista em contexto. A China tem obtido conquistas relevantes na exportação de sua versão sobre os temas de seus interesses, por meio da pressão que exerce pelo peso de seu mercado. Ninguém quer causar a menor irritação nos ânimos do Partido Comunista Chinês e, com isso, perder a chance de embolsar muita grana por lá.
Em 2020, o pré-lançamento de “Top Gun Maverick” causou polêmica pelo fato de a imagem da bandeira de Taiwan ter desaparecido da jaqueta do protagonista da história, vivido pelo ator Tom Cruise. Dois anos depois, o filme foi lançado, com a bandeira de volta, mas em um único relance. Depois disso, quem desapareceu foi a jaqueta inteira, para evitar novas tensões.
Têm sido recorrentes as pressões chinesas sobre a indústria de entretenimento. Em 2022, o turco-suíço Enes Kanter Freedom (este último sobrenome adotado depois de sua naturalização americana) foi suspenso e depois forçado a deixar sua carreira na NBA. Ele se tornou incômodo por fazer manifestações públicas contra o regime e por usar tênis com pinturas de protesto denunciando as violações dos direitos humanos dos uigures.
Pouco antes da eclosão da pandemia de Covid-19, a animação “South Park”, em um episódio-protesto contra o seu banimento na China, fez uma crítica feroz à indústria de entretenimento, que tem cedido aos caprichos do Partido Comunista Chinês. Os líderes do PC chinês nem puderam se esconder atrás da desculpa do sentimento anti-China que eles usaram de escudo para se proteger de qualquer crítica. Apenas dobraram a aposta, mantendo as restrições a tudo e todos que contrariavam os interesses do partido.
A tal linha dos “nove traços” aparece claramente na animação sino-americana “O Abominável” e causou indignação na região. A Malásia chegou a exigir a supressão da cena. Uma produção australiana da Netflix, “Pine Gap”, deixou de ser exibida nas Filipinas depois dos protestos pela aparição de um mapa favorável às ambições imperialistas chinesas. Em ambos os casos, os mapas não deixam dúvidas sobre o alinhamento com Pequim.
A Corte Permanente de Arbitragem da Haia já se pronunciou sobre as demandas territoriais chinesas. Em 2016, a corte julgou improcedentes as reivindicações de Pequim. Mas o PC chinês simplesmente a ignora. Edita seus mapas e ensina seus estudantes que as “nove linhas” demarcam o que é da China por direito.
Uma guerra pelo domínio do Mar do Sul da China parece ser uma questão de tempo. Tensões provocadas pela inocente Barbie são o indicador de que nem a China, nem os seus vizinhos estão dispostos a recuar na defesa do que eles consideram ser deles por direito. Bem-vinda ao mundo real, Barbie.
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