Magnoli acusava-os de tudo um pouco, lançando mão dos rótulos infamantes habituais, tais como “teóricos da conspiração”, “xenófobos”, “radicais” etc. A acusação mais grave, todavia, estava já resumida no título do artigo. Ao fazer referência aos Protocolos, e também retratar Soros como vítima de uma teoria da conspiração, Magnoli tinha por objetivo colar nos críticos do globalismo a pecha de antissemitas.

Mas, aparentemente tão preocupado com o antissemitismo, Magnoli só conseguiu enxergá-lo nos críticos do globalismo, jamais em seus entusiastas, especialmente nos globalistas antissionistas. Ora, não é demais lembrar que há poucas instituições no mundo tão antissemitas quanto a própria ONU, a face institucionalmente mais visível do globalismo, e cujo viés anti-Israel é bem conhecido, ilustrado em centenas de resoluções absurdas, a exemplo da infame 3379 (que tratava o sionismo como uma forma de racismo, e que levou anos para ser anulada) e da mais recente 2234, que condenou as colônias israelenses na Cisjordânia, e foi aprovada graças à vergonhosa abstenção dos EUA, naquele que foi o último de uma série de atos de hostilidade do governo Barack Obama – o presidente mais anti-Israel da história americana, apoiado por Soros – contra o povo israelense.

O fato de Soros ser incidentalmente judeu não tem nada a ver com a história, e não o impede de agir, como tem efetivamente agido por intermédio de seus agentes globais de influência, contra os interesses dos judeus, em especial dos israelenses

O curioso é que o mesmo Magnoli que viu antissemitismo nas críticas a Soros tenha sido também autor de uma coluna que equiparava antissionismo e antissemitismo. Publicada na Folha de S.Paulo em agosto de 2014, e intitulada “O sofisma antissemita”, lia-se nela o seguinte: “O antissemita polido mobiliza um sofisma básico: a distinção entre antissemitismo e antissionismo (…) Um século atrás, a distinção entre antissemitismo e antissionismo era um argumento político issível; desde pelo menos 1948, não a de camuflagem do ódio aos judeus”.

Concordo com esse argumento de Magnoli. Depois dos eventos de 7 de outubro, sobretudo, restou claríssimo que o antissionismo não a de um disfarce para o antissemitismo. Mas, se isso é verdade, George Soros, talvez o maior financiador do antissionismo no Ocidente, não pode ser considerado uma vítima quintessencial do antissemitismo, mas, logicamente, um dos seus principais promotores. O fato de ser incidentalmente judeu (como o foram tantos judeus auto-odiosos e antissemitas, a começar por Karl Marx e a terminar por Breno Altman) não tem nada a ver com a história, e não o impede de agir, como tem efetivamente agido por intermédio de seus agentes globais de influência, contra os interesses dos judeus, em especial dos israelenses. E esse é, precisamente, um dos cernes da crítica antissorosiana, a qual, portanto, nada tem de antissemita, e muito pelo contrário. Como conclui brilhantemente Dershowitz:

“A minha crítica a Soros não inclui comparações com Magneto, que, assim como Soros, sobreviveu ao Holocausto. Não faço essa comparação porque nunca tinha ouvido falar nesse supervilão, mas concordo com Musk que as atitudes, as motivações e as participações de Soros contribuem, sim, para erodir a ‘estrutura da civilização’ (...) Todo judeu deve condenar o apelo ilegítimo e antissemita à ascendência judaica de Soros. Mas esse apelo não deve coibir ou interditar a crítica legítima à influência individual de Soros sobre o mundo, não enquanto judeu, mas enquanto um supervilão por mérito próprio.”