Princípios para a ordem mundial em transformação: Por que as nações prosperam e fracassam, Ray Dalio realiza uma profunda investigação histórica e financeira com o objetivo de desvendar os mecanismos do ado que configuraram a sociedade de hoje. Na pesquisa, ele identificou uma série de ciclos e fatos que se repetem, tanto na ascensão quanto na queda de novas potências mundiais. Lembrando que Dalio é o fundador da Bridgewater Associates, a maior e mais lucrativa gestora de hedge funds do planeta. Hedge Funds são fundos dedicados a istrar o capital dos investidores com o fim de proteger o patrimônio aplicado. Por isso, são compostos por especialistas em analisar os riscos que se colocam a cada momento.
A partir da leitura do livro de Dalio, lançando em 2022, somos instigados a perceber a recorrência de eventos históricos. Assim, o que acontece hoje pode ser compreendido em comparação com outros fatos semelhantes ocorridos décadas atrás. Incentivado por essa leitura, ei a perceber a enorme semelhança entre o contexto da atual Guerra na Ucrânia com a famosa Crise dos Mísseis de Cuba, um ime diplomático entre Estados Unidos e a União Soviética que quase levou o mundo à 3ª Guerra Mundial. O caos durou 13 dias, entre os dias 16 e 29 de outubro de 1962.
Imagine se a Rússia fizesse um acordo com Cuba, México e Canadá para colocar centenas de mísseis balísticos (armados com ogivas nucleares) nas fronteiras norte e sul dos Estados Unidos.
Aprendemos na escola que a Crise dos Mísseis aconteceu quando Moscou decidiu colocar mísseis balísticos em Cuba, a menos de 150 km dos EUA. Obviamente, os americanos ficaram muito chateados e revoltados com esse perigo iminente. Mas o detalhe que muitas vezes não é ensinado é que a decisão do então líder soviético Nikita Khrushchev de posicionar os projéteis na ilha foi, na verdade, uma resposta a uma provocação anterior norte-americana. Isso porque em 1961, os EUA haviam treinado e apoiado um grupo de paramilitares que tentaram invadir Cuba, conhecido como a Invasão da Baía dos Porcos. A ação fazia parte da Operação Mongoose, criada em 1960 por John Kennedy para derrubar o governo cubano.
Porém, a provocação norte-americana que levou ao posicionamento dos projéteis em Cuba já havia acontecido antes, quando, em 1959, os EUA posicionaram 30 mísseis balísticos PGM-19 Júpiter (armados com ogivas nucleares) na Itália, e mais 15 projéteis do mesmo modelo na Turquia, numa estratégia de dissuasão da OTAN contra Moscou.
Como resposta, houve o posicionamento dos mísseis russos em Cuba, que levou o mundo a viver 13 dias de níveis máximos de tensão. O dia mais tenso aconteceu no sábado, 27 de outubro de 1962, quando uma aeronave espiã americana foi derrubada pelos cubanos, levando à morte do piloto. Naquele momento, o desfecho de um conflito de proporções globais parecia inevitável. Porém, o resultado acabou sendo “feliz”. Após o ime, houve um acordo entre Moscou e Washington, que envolveu a retirada dos mísseis soviéticos de Cuba, mas também a remoção dos projéteis americanos da Turquia e Itália. Além disso, os EUA am um acordo prometendo nunca mais tentar invadir Cuba. Também foi criada uma linha direta de comunicação entre os EUA e a União Soviética, popularmente chamada de “Telefone vermelho”, conhecida em inglês como a “Moscow-Washington Hotline”. Porém, na verdade, não se tratava de um telefone, mas de um teletipo, que evoluiu posteriormente para uma máquina de fax em meados dos anos 80.
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Agora, veja como hoje vivemos um cenário muito semelhante. O que a mídia mostra é a atitude de Putin de invadir a Ucrânia. Mas não se costuma mostrar como a OTAN foi se expandido ao redor da Rússia. Hoje, os EUA possuem mísseis balísticos posicionados na Espanha, Alemanha, Romênia, Polônia e (novamente) na Turquia. Quase todos os antigos países que compunham a União Soviética foram integrados à OTAN, criando uma espécie de “cortina de contenção” ao redor da Rússia. Seria muito previsível que Moscou não ficaria inerte diante de um avanço e de um risco tão claro como esse.
Imagine se a Rússia fizesse um acordo com Cuba, México e Canadá para colocar centenas de mísseis balísticos (armados com ogivas nucleares) nas fronteiras norte e sul dos Estados Unidos. Qual seria a reação de Washington? Obviamente haveria uma resposta muito agressiva por parte dos EUA. É exatamente o que Biden e a OTAN estão fazendo com Putin. Mas é óbvio que isso não justifica as loucuras que Moscou tem feito na Ucrânia. A reflexão busca apenas ressaltar a motivação (e os riscos) por trás de tudo que estamos assistindo.
A grande pergunta é: será que, assim como aconteceu em 1962, teremos um “final feliz”? Deus queira.
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