Já para justificar a exclusão da expressão “chuta que é macumba”, a cartilha diz que seu uso dissemina a ideia de “perseguição e destruição de qualquer coisa que possa ser associada às religiões de matriz africana”.
A palavra “esclarecer” traz em si o sentido de oposição à ausência de luz, que gera dificuldade de enxergar. Mas, segundo o TSE, a palavra também não deve mais ser usada, pois “embute-se nela o racismo a partir do instante em que transmite a ideia de que a compreensão de algo só pode ocorrer sob as bênçãos da claridade, da branquitude, mantendo no campo da dúvida e do desconhecimento as coisas negras”.
Por fim, ao explicar o porquê de a expressão “feito nas coxas” deixar de ser usada, a cartilha cita três diferentes narrativas hipotéticas para a origem do termo. Apenas uma delas aponta suposta conotação preconceituosa, que é a de que o termo teria relação com o hábito colonial de produção de telhas moldadas nas coxas de pessoas escravizadas.
No entanto, como mostrado pela Gazeta do Povo, em 2006 o arquiteto José La Pastina Filho, que inicialmente acreditava nessa hipótese, desmontou tal mito recorrendo à matemática após ar quatro meses percorrendo o estado de Santa Catarina em busca de telhas tradicionais de galpões antigos.
“[…]Tomamos as medidas das coxas de um homem de 1,80 m de altura e verificamos que, usando-a como molde, só seria possível a fabricação de uma minúscula telha de 36 cm de comprimento. Sem maiores preocupações com aspectos de anatomia humana, se estabelecermos uma simples regra de três poderemos verificar que, para fabricar uma telha de 77 cm [como medem as tradicionais], precisaríamos contar com um escravo de 3,85 m de altura”, escreveu no artigo que ficou famoso, publicado originalmente na revista de Arqueologia da UFPR em 2006.
Mesmo assim, a cartilha do TSE preferiu entender que “o linguajar cotidiano costuma associá-lo ao trabalho da pessoa negra, algo de baixa qualidade, malfeito. Assim, a expressão acaba reproduzindo uma ideia racista e merece ser abandonada”.
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