
As indústrias do setor, muitas delas cooperativas, produzem cortes especiais para atender os principais mercados consumidores, China e Japão. E o frango griller, de tamanho pequeno, pesando cerca de 1 quilo e comercializado inteiro, para atender o mercado islâmico.
Para atender este mercado especificamente, o setor se especializou e hoje a maior parte das plantas frigoríficas do setor de aves no Paraná tem a certificação para realizar o abate halal, que segue as regras aceitas pelo consumidor muçulmano.
Carnes, madeira compensada e veículos estão entre os produtos que a Alemanha compra do Paraná e, de acordo com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná), é a produtividade no agronegócio e a modernidade do parque fabril nesses setores que tornam os produtos atraentes. “Os bens produzidos têm qualidade e atendem as exigências do mercado alemão”, diz Andreas Hoffrichter, diretor da AHK.
Os produtos de base florestal também têm destaque nas exportações. No caso da madeira, o que favorece a boa performance é o adequado manejo das florestas plantadas e a diversificação e estrutura do parque industrial. O Paraná produz tudo dentro do segmento, desde vigas para estruturas na construção civil, como molduras para esquadrias e acabamentos e chapas de MDF para pisos, forros e móveis. A madeira é exportada principalmente para os Estados Unidos e a China.
Cerca de 60% das exportações de produtos de madeira do Paraná têm como destino os Estados Unidos. “Fatores como qualidade, preço e oferta exportável favorecem essas vendas, recentemente impulsionadas também pelo aquecimento da construção civil e do mercado imobiliário norte-americanos”, diz Abrão Árabe Neto, vice-presidente executivo da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil).
O economista do Ipardes, Francisco Gouveia de Castro, cita também a produção de papel e celulose. “Esse setor ganhou um grande aporte de investimentos no Paraná com o grupo Klabin ampliando sua operação, o que contribuiu para a expansão das exportações. Além disso, o crescimento da demanda mundial por embalagens tem favorecido as vendas”, destaca.
O aquecimento do mercado de embalagens foi sentido pela Ibema, que tem sede istrativa em Curitiba, centro de distribuição em Araucária e fábrica em Turvo, no Centro-Sul do Paraná. “Nós exportamos hoje cerca de um quarto de nossa capacidade instalada, de 140.000 toneladas/ano, de papelcartão”, informa Leonardo Reis, gerente de Negócios Internacionais e Distribuição da Ibema.
Ele explica que o produto é utilizado em larga escala na produção de embalagens para indústrias de alimentos, remédios e cosméticos do mundo todo. Reis atribui a boa performance das exportações também ao desenvolvimento de novos produtos, como, por exemplo, cartões para copo ou com fibras recicladas para solucionar o problema do lixo. As exportações representam 25% das vendas da Ibema e os principais mercados fora do Brasil são Argentina, Portugal, Reino Unido e Paraguai.
“Em relação aos automóveis, único produto de fora do agronegócio que figura nas primeiras colocações da pauta de exportações do Paraná, pode-se atribuir às fábricas que o Paraná atraiu”, diz Naijla El Alam, do Centro Internacional de Negócios, do Sistema Fiep.
Uma delas é a sa Renault, com o complexo industrial Ayrton Senna, instalado em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
“Neste mês de setembro, completamos a marca de mais de 900 mil veículos exportados, ao longo dos 22 anos de produção no Paraná”, diz Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil. Segundo ele, a planta paranaense é a única a produzir os veículos Kwid, Captur, Oroch e Master, sendo polo exportador.
Para o presidente da Renault do Brasil, o país pode avançar nas exportações. Mas para isso tem grandes desafios. Ele cita como necessárias as reformas tributária e istrativa e a segurança jurídica para dar previsibilidade e assegurar futuros investimentos.
“Na América Latina, o México tem sido um dos países mais competitivos do segmento, de acordo com estudos divulgados pela Anfavea. O México é 18% mais competitivo no custo da produção de automóvel em comparação ao Brasil”, pontua. Ele diz que por isso o Brasil perdeu em exportações, citando o exemplo do Duster, que é exportado para a Argentina e desde 2018 não é mais fabricado no Brasil.
Especialista em negócios internacionais, o professor João Alfredo Lopes Nyegray, da Universidade Positivo (UP), diz que o Brasil exporta muito pouco. “Singapura, que é muito menor, exporta muito mais que nós”, observa. O professor lembra que “na década de 50, quase 2% do mercado mundial era do Brasil e hoje sofremos para chegar a 0,8%. É ínfimo, considerando as potencialidades que o país tem”.
Em relação ao Paraná, para Nyegray, as exportações poderiam ser bem maiores. “O estado não só é o agronegócio, é muito mais que isso”, afirma. Ele cita como áreas potenciais para avançar nas exportações paranaenses: veículos, biocombustíveis, papel e celulose e alimentos em geral.
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