Logística, infraestrutura e o desafio de convencer o poder público

Na conta dos desafios regionais também estão listados entraves logísticos, ambientais e de infraestrutura. A região está no extremo oposto do Porto de Paranaguá. São cerca de 700 quilômetros de distância entre a produção do oeste paranaense e o principal canal de exportação do estado e o segundo maior do país.

Com as novas concessões rodoviárias do Paraná, o segmento vislumbra a duplicação completa da principal rodovia de escoamento produtivo do estado, a BR-277, de Foz do Iguaçu até o porto. “Precisamos de soluções importantes para a trafegabilidade. Obras, duplicações de rodovias, ferrovias”, destacou o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Edson Vasconcellos.

Para além das estradas, a expectativa está na Nova Ferroeste, iniciativa que promete revolucionar a estrutura ferroviária paranaense que segue em fase de gestação pela istração estadual. O projeto está interligado a outra proposta, a do corredor ferroviário bioceânico ligando Paranaguá a Antofagasta, no Chile. A promessa é de encurtar caminhos, diminuindo custos e tornando a região oeste paranaense mais competitiva no mercado internacional.

Produtos do oeste paranaense, principalmente proteínas, têm como destino mais de uma centena de países.

O avanço almejado pela região, e que caminha a os largos à consolidação, conta com a participação direta das cooperativas. Somente as maiores instaladas por lá – Lar, Copacol, C.Vale, Frimesa e Coopavel - têm faturamento bruto anual de R$ 65 bilhões e crescem acima dos 10% ao ano. Este segmento agroindustrial conta com o apoio da recém-empossada diretoria da Fiep.

O novo presidente, Edson Vasconcellos, tem como proposta percorrer o estado para despertar vocações industriais. Ele quer sensibilizar gestores municipais a pensarem políticas industriais, para o fomento de parques produtivos, além de medidas que estimulem a permanência das indústrias nas cidades, no que chama de “solução de gargalos”.

Vasconcellos pretende trabalhar para um ambiente atrativo a novas plantas no estado. “E isso vale para o oeste, que tem uma vocação agro consolidada e um trabalho bem desenvolvido, estruturado e de referência. Não sou do segmento agro, mas quero que o setor avance porque fomenta toda a economia. Estamos em um estado com vocação ao agronegócio”, considerou.

Para o presidente da Fiep, essa referência a obrigatoriamente pela conscientização de toda a cadeia, sobretudo do poder público. “Se um supermercado fechar na cidade, certamente outro virá, mas se uma Frimesa (com sede em Medianeira. no oeste paranaense) fechar as portas, dificilmente outra virá para se instalar no local”, completou.

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Suinocultura está entre as principais metas de crescimento

A Frimesa é o quarto maior player do mercado suíno do Brasil. Emprega 9 mil pessoas, tem mais de 2 mil cooperados e fechou 2022 com faturamento bruto de R$ 5,6 bilhões. E a empresa mira em ampliar sua fatia no mercado. Para isso, inaugurou uma nova planta industrial no município de Assis Chateaubriand (PR), para se tornar o maior frigorífico da América Latina em abate de suínos.

O pleno funcionamento do espaço é planejado para o fim desta década, com capacidade para abate de 15 mil animais por dia. Por enquanto, a produção gira em torno de 3 mil suínos/dia, com expectativa de chegar a 5 mil/suínos dia até dezembro. Por lá, o desafio também a pela falta de gente para trabalhar.

De acordo com o CEO da cooperativa, Elias Zydek, a Frimesa quer chegar a mercados que até poucos anos estavam travados para as proteínas brasileiras. O motivo era a condição de área livre de aftosa, mas com vacinação.

Foi do POD a mobilização estadual, nacional e internacional que resultou, em 2020, no Paraná área livre da doença sem vacinação. “Antes atingíamos 40% do mercado, hoje alcançamos 100% e estamos abrindo caminho para importantes compradores como Japão e Coreia do Sul”, destacou. Zydek está na direção do POD, no Conselho Regional de Sanidade Animal, e teve papel fundamental neste processo.

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Para Ocepar, oeste do Paraná precisa vencer limitações para se tornar a maior região produtora de carne

O presidente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken, reconhece a potência do oeste paranaense na produção de proteínas, mas lembra que a intenção de liderança audaciosa - como maior região produtora de carne - precisa vencer limitações.

“Em alguns municípios temos dificuldades para autorização de outorga de uso de água. Existem pandemias no setor pecuário, talvez não dê para concentrar tudo (a produção) numa única região, mas o oeste já representa a maior parte da produção de proteína animal do Paraná”, acentuou.

Para Ricken, o setor de suínos é o que terá condições de avançar mais nos próximos anos, focado na abertura de novos mercados. Do total da produção estadual do segmento, 56% estão concentrados nas cooperativas e, dessa fatia, 32% no oeste. Na avicultura, 44% da produção do Paraná estão nas mãos das cooperativas e, sozinho, o oeste responde por 40% dos plantéis e abates

Quando o assunto são os peixes, as cooperativas recebem 30% da produção paranaense e 28% estão na região. “Dizer que será a maior do mundo é um desejo, não sei como está sendo avaliado isso, mas existem muitas limitações a serem vencidas”, registrou.

Das 140 cooperativas agroindustriais paranaenses, 80 são de produção animal e 60 de produção vegetal (soja, milho, trigo e outros cereais). A maior parte das indústrias do Paraná está focada em produtos de origem animal.

O setor cooperativista do estado tem 11 plantas voltadas ao abate de frangos, das quais oito estão no oeste. Das cinco designadas à suinocultura, quatro estão na região. “A suinocultura tem muito para avançar no Paraná e a região oeste vem se destacando. Isso é (reflexo) do investimento que foi feito pelo segmento cooperativista, ou seja, potencial tem, mas acreditamos que seja preciso distribuir melhor entre os municípios a produção observando a sustentabilidade e a segurança fitossanitária adequada”, seguiu. Para Ricken, a tendência é que a produção se estenda ao sudoeste, noroeste e região central do estado.

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Produtor descapitalizado e falta de recursos para investimentos

Na ponta e na avaliação do produtor, que é quem aloja, alimenta e prepara os animais para o abate, o entrave se chama descapitalização. Na avaliação da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep/Senar), os produtores paranaenses têm produzido mais e melhor graças às tecnologias e investimentos, mas a grande limitação está na descapitalização de todas as cadeias produtivas diante de custos de produção elevados e, recentemente, com preços mais baixos das commodities e da produção de origem animal.

O cenário ainda é limitado diante da falta de crédito e juros elevados para investimentos. Para a Faep, isso tem afetado o o ao crédito para a construção de novas granjas, aviários e açudes. O órgão defende melhor estruturação macro e micro da economia que possibilite avanços no segmento que é o mais importante à economia do estado. O Paraná é o segundo maior produtor agrícola do país.

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