Outros exemplos negativos da suspensão da boa governança podem ser dados. Vamos a mais um. Se não foi necessário muito esforço para suspender dispositivos da lei das estatais, claro que para alterar o estatuto da APEX haveria muito menos dificuldade, e, tendo isso feito, outro amigo de Lula pôde, igualmente, sentar na cadeira de presidente.

Tudo isso é observado pelas organizações internacionais. O apadrinhamento não é regra de governança e o Brasil é visto como o paraíso da corrupção. Caiu para a 104ª posição no ranking sobre a percepção da corrupção, segundo a ONG Transparência Internacional, o que é péssimo para o país.

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Países com alto índice de corrupção afastam investimentos. Os investidores buscam países que forneçam certeza, baixo risco, segurança jurídica e previsibilidade. Isso sem levar em conta que a corrupção aumenta o custo porque pagamentos de subornos e outras ilegalidades diminuem a lucratividade e o fato de que a corrupção aloca os recursos, que já são insuficientes, de maneira errada. Quem pode garantir que a alocação de recursos e tomada de decisões será pelo bem da economia do país ao invés das agendas partidárias como meio de perpetuação no Poder?

A Lei das Estatais e a Lava Jato eram avanços institucionais postos de lado e o retrocesso toma conta.

Enquanto em vigor, a lei das estatais protegia as empresas públicas. Elas apresentaram lucro e superávit, justamente porque os investidores precisam de boas regras de governança corporativa para livrar as empresas de interferência política. A prosperidade de uma empresa, seja estatal ou não, está diretamente relacionada com a não interferência do Estado e o contrário é desastroso. Exemplo disso foi observado na semana ada. Vimos as ações da Vale despencar após a tentativa de emplacar como CEO um correligionário do Presidente. Claro que não deu certo. O mercado reage, o investimento vai embora e a percepção da corrupção se intensifica.

Respondendo à pergunta, caro leitor, nada de novo. Mais do mesmo. Voltamos no tempo, mas estamos na contagem regressiva para virar essa página do retrocesso. Para quem acredita na força da transparência e para quem ama o Brasil, ainda existe a crença e a convicção de que melhoras estão por vir. Nenhum mal dura para sempre.

Rosangela Moro é deputada federal por São Paulo e advogada pós-graduada em Direito Tributário.