Para o futuro, novos impactos nos preços estão a caminho no Brasil. Na segunda-feira, os preços do diesel foram reajustados em 8,86% e, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), ainda há uma defasagem de 11% no preço.
E, também há outro problema que já esta trazendo impactos à economia brasileira. O aumento de casos de Covid-19 na China, principalmente na região de Xangai, de onde sai um quarto do PIB do país, afeta a economia brasileira de duas formas.
De um lado, diz Nakahondo, há um menor consumo de commodities por parte da segunda maior economia global. De outro, as dificuldades no fornecimento de bens e componentes industriais, podem pressionar os custos nas fábricas, que já aumentaram 18,31% nos últimos 12 meses, segundo o IBGE.
Mas, também há fatores locais influenciando na alta dos preços, ressalta o economista do MUFG Brasil. É o caso da alta no preço de alimentos produzidos internamente, como os hortifrutigranjeiros, cuja produção foi afetada por problemas climáticos. Hortaliças e verduras tiveram uma alta de 36,62% nos 12 meses encerrados em abril. Frutas, 17,49%.
Há também, segundo o coordenador de preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz, uma pressão vinda do setor elétrico que pode anular os benefícios obtidos com o fim da bandeira tarifária de escassez hídrica e a volta da bandeira verde. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou, em abril, reajustes entre 17% e 20% para algumas concessionárias. A medida vale para distribuidoras do Ceará, Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte.
“Por serem estados com participação pequena no IPCA, o impacto não foi muito relevante para a inflação anual [em março]”, apontam analistas da XP Investimentos.
Um projeto, do deputado federal Domingos Neto (PSD-CE), que tramita em regime de urgência, prevê a suspensão dos reajustes na conta da distribuidora cearense, mas já se fala em alterar o texto em plenário para que a medida se estenda aos demais reajustes autorizados pela Aneel.
Todos os aumentos autorizados pela agência reguladora neste ano tendem a ser influenciados pelo uso intenso de termelétricas em boa parte de 2021, o que encareceu os custos das distribuidoras. Eles não foram totalmente cobertos pelas bandeiras mais caras.
O autor do projeto justifica que os reajustes concedidos revelam “acentuado descomo” com a situação socioeconômica da população brasileira. O parlamentar considera que “o setor elétrico brasileiro vem sendo impactado por sistemáticas de revisões e reajustes que muito extrapolam os índices oficiais de inflação” e excedem a capacidade de pagamento do consumidor.
A Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee) aponta que os reajustes mais altos observados em 2022 são fruto de questões financeiras não realizadas, que remontam a anos anteriores nos quais os aumentos foram represados, deixando de ir para as contas de luz.
A expectativa dos analistas ouvidos pela Gazeta do Povo é de que a inflação anualizada volte ao patamar de um dígito até agosto. Mas, segundo o coordenador de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, este cenário não é o ideal. “Inflação boa é quando está na meta.”
A mediana das projeções para o IPCA em 2022, divulgada no dia 2, está em 7,89% e está aumentando há 16 semanas, segundo o Banco Central.
Segundo Nakahondo, o pico da inflação foi o IPCA-15 de abril. Para abril e maio é esperado um refresco, por causa da mudança de bandeira tarifária da energia elétrica, e da recomposição dos reservatórios das hidrelétricas.
E mesmo com o Índice de Preços no Atacado (IPA-M), calculado pela FGV, nos últimos 12 meses, batendo em 16,09%, o economista prevê dificuldades no ree de preços ao consumidor, por causa da atividade econômica fragilizada.
O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, espera uma pressão menor para o preço das commodities e conta com a normalização das cadeias produtivas para o ano que vem. “Com a desaceleração da China e um possível fim da guerra na Ucrânia, as matérias-primas tendem a ficar mais em conta.”