O sócio da consultoria ressalta que, com a Selic nesse patamar, o crescimento do número de empresas em recuperação judicial deve continuar. Uma queda mais significativa dependerá de juros menores. “À medida que as taxas de juros caem, espera-se também uma redução nas entradas em recuperação judicial.” 12563h
Rabi, da Serasa, observa que, diante do ritmo mais lento de cortes na taxa Selic, as empresas se sentem mais pressionadas. “Uma Selic em dois dígitos é extremamente alta para uma economia que cresce cerca de 2%. Isso gera um custo financeiro elevado às empresas, impactando sua solvência financeira.”
Um fator adicional que deve impulsionar o aumento de pedidos de recuperação judicial é a tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul. A Federasul, que reúne entidades empresariais do estado, estima que serão necessários de R$ 110 bilhões a R$ 176 bilhões para reconstruir a infraestrutura.
O vice-presidente e coordenador da divisão de economia da Federasul, Fernando Marchet, aponta que, por causa da tragédia, haverá uma tendência de aumento do endividamento das empresas afetadas pelas enchentes. "Temos uma realidade em que muitas das garantias que as empresas davam para os bancos estão literalmente embaixo d'água", diz.
A queda na atividade econômica decorrente das inundações piora a situação. “As empresas não conseguem realizar vendas e as pessoas encontram dificuldades para obter emprego”, diz o economista da Serasa.
Levantamento da RGF Associados mostra que o Rio Grande do Sul é, proporcionalmente, o oitavo estado com mais empresas em recuperação judicial. São 2,36 por grupo de mil. Eram 337 empresas nessa situação no fim do primeiro trimestre, antes da catástrofe, o que já representava um crescimento de 3,7% em relação ao último de 2023.
A consultoria aponta que, no Brasil, os maiores números de empresas em recuperação judicial pertencem aos setores de incorporadoras de empreendimentos imobiliários (268 casos, ou 3,2 por mil empresas), holdings de instituições financeiras (252 casos, ou 2,4 por mil) e construtoras de edifícios (202, ou 3,2 por mil).
“Construtoras e incorporadoras são setores muito cíclicos. Eles têm uma grande necessidade de caixa para investimento e um ciclo financeiro extenso. Desde o início de um projeto até a entrega efetiva da obra, transcorrem de dois a três anos”, enfatiza Gallegos, da RGF.
Outro setor que enfrenta desafios é o agronegócio. A Justiça tem equiparado produtores rurais a empresas, concedendo-lhes recuperações judiciais. Somente entre os dedicados ao cultivo de soja, são 11,8 por grupo de mil em recuperação judicial, um número mais de seis vezes superior à média nacional. Na criação de bovinos de corte, são 8 por grupo de mil em recuperação judicial.
Um estudo da Serasa Experian mostra que o setor com o maior aumento no número de pedidos de recuperação judicial foi o comércio, com um crescimento de 112%. Foram solicitadas 144 recuperações judiciais no primeiro trimestre, representando 29% do total.
A situação do comércio reflete as adversidades enfrentadas pelo consumidor. “Ele sofre com os preços altos dos alimentos e com o poder de compra reduzido”, diz Rabi. Em março, havia 72,9 milhões de consumidores com restrições de crédito, o maior número desde o início da série histórica, em 2016.
As vendas do comércio, porém, ainda estavam em alta na última divulgação do IBGE – até março, o crescimento em 12 meses era de quase 3%. “Olhando para 2024, a expectativa é que um mercado de trabalho mais aquecido, a política de valorização do salário mínimo e uma inflação controlada possam compensar um juro real ainda alto”, afirma o economista Igor Cadilhac, do Piay.
O problema, segundo Rabi, é que o comércio opera com margens de lucro estreitas. E os segmentos mais dependentes de crédito são os mais afetados no cenário de juros elevados. O volume de vendas de materiais de construção, por exemplo, caiu 1,5% em 12 meses. Outro segmento com vendas em baixa é o de móveis, com queda de 4% em um ano.