Foram conversas em bom tom, muito profissionais. Os bancos precisam de garantias. Nós dissemos “olha, aqui tem um crédito do governo. O que há de mais seguro do que um crédito do governo federal? Mais seguro do que isso, não existe”. Mas eles ainda estão pensando. a1h60

O Ministério deu algum prazo para responder a essa demanda?

Eles falaram que iam estudar. De novo, é a velocidade. Há fornecedores que não estão conseguindo pagar a folha de pagamento. Há fornecedores que não estão conseguindo capital de giro. Nós só vamos conversar daqui a uma semana. Enquanto nós pensamos, a vida continua e a conta precisa ser paga.

Enfim, tomara que seja solucionado. De novo, não para as montadoras, mas pra cadeia de fornecedores e concessionários. Hoje eu estava conversando com a rede de concessionários em São Paulo. Eles não vão faturar nada por dois meses. Continuam vindo contas de luz, IPTU, salários. Não tem como resistir.

Mudando um pouco de assunto, as exportações também tiveram queda significativa. Há alguma perspectiva de retomada?

Os outros países estão na mesma velocidade que o Brasil. O mesmo que está acontecendo no mercado brasileiro está acontecendo na Argentina, no Chile, no Peru, no Paraguai, na Costa Rica, no México. Alguns países estão mais abertos que outros, mas a velocidade da demanda vai ser fraca. O problema não é do país, é mundial. Acho que as exportações vão se manter nesse nível baixo nos próximos meses também.

Além dos investimentos congelados, houve alguma outra mudança de rumos? Lançamentos foram postergados?

Nós congelamos todos os investimentos. Isso não significa suspender ou cancelar. Congelamos para não gastar mais dinheiro por um período de três meses. Depois, vamos reavaliar o que fazer: quanto tempo atrasar ou até possivelmente cancelar algum projeto do futuro.

O problema de caixa e de liquidez na VW e na indústria será muito pesado. Nós vamos ficar sem caixa para o investimento do futuro. Com certeza, atrasaremos todos os investimentos. Menos o Nivus, que estamos lançando agora no final de junho; e temos um SUV que será produzido na Argentina até o final do ano, que também não foi atrasado porque já fizemos quase todo o investimento. O resto está todo congelado.

Qual é a soma de investimentos congelados?

O número não é público. Não comunicamos o plano de investimento. Estávamos próximos de fazer um anúncio de investimentos após 2020, mas a pandemia pegou e não comunicamos nada. Estávamos muito próximos de comunicar.

Para terminar, com o impulso pandemia, a empresa está fortalecendo os canais de venda digital?

Ainda bem que nós começamos dois anos atrás com a venda digital e temos o DDX [Digital Dealer eXperience]. Hoje, todos os concessionários têm seus vendedores com tablets e óculos com realidade aumentada. Eles podem ir para onde você quiser, e o processo de venda pode acontecer do início ao fim no tablet, inclusive a parte do financiamento. Está tudo integrado. Você como consumidor escolhe o carro, vê o estoque, vê o preço, negocia, e pode fazer um tour em realidade aumentada com os óculos. Se você quiser fazer um test drive, levam o carro até onde você quiser. Isso começou como um piloto, mas agora os concessionários vão acelerar ainda mais esse processo.

O Nivus, nosso lançamento, é um carro totalmente conectado, quase um celular com rodas. Nós já estávamos nessa onda de digitalizar a empresa, que vai acontecer e vai acelerar muito mais na VW e no mundo. Os hábitos das pessoas vão mudar significativamente. Toda a nossa vida vai ser muito mais digital e muito diferente do ado.