Analistas apontam que no Brasil, um dos primeiros reflexos de um maior descontrole fiscal pode ser na dificuldade de rolar a dívida pública. Isto afetaria a credibilidade do país no exterior, indicando altas no risco-país e na taxa de câmbio. Uma consequência dessas altas seria pressão sobre a inflação, já que muitas commodities e mercadorias são comercializadas em dólares. 421u1f

O presidente do Instituto Liberal de São Paulo (Ilisp), Marcelo Faria, afirma que o mercado exigiria juros mais elevados para rolar a dívida, o que limitaria a economia privada, aumentando o custo do crédito e não favorecendo o emprego e a geração de renda.

O crédito mais caro também pesaria sobre os preços. As condições de financiamento das empresas piorariam, diz Demostenes Jonatas, professor de economia aplicada da Faculdade Presbiteriana Mackenzie de Brasília. Isto levaria a custos de produção mais elevados, refletindo-se nos preços dos bens e serviços.

“São cenários em que os mais pobres seriam mais impactados, devido ao crescimento do desemprego e à perda do poder aquisitivo. Os mais ricos teriam meios de proteger seu dinheiro por meio de aplicações financeiras”, afirma o especialista do Ilisp.

Analistas defendem ajuste fiscal pelo lado das despesas 4c4f63

Analistas apontam que, justamente por causa desses riscos, é necessário investir um ajuste fiscal pelo lado das despesas públicas. Mas o que o governo tenta fazer é um ajuste apenas pelo lado da arrecadação, sugando recursos que a iniciativa privada poderia aplicar em suas atividades.

“Sem essa revisão, no longo prazo haverá um aumento na carga tributária e na taxa de juros, o que significa menos crescimento e menos emprego”, destaca Faria.

Um dos caminhos apontados por Shikida é a necessidade de rever o arcabouço fiscal. O especialista diz que não é possível aumentar a arrecadação fiscal indefinidamente sem provocar uma desaceleração econômica.

“As evidências empíricas nos mostram que ajustes feitos, primordialmente, com aumentos de impostos geram recessões mais longas do que os que têm no corte de gastos a sua principal ferramenta. Deste modo, caminha-se para uma situação perigosa se nada for feito”, alerta.

Mesmo a estratégia de ajuste fiscal via receitas tem falhas: o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não tem conseguido aval do Congresso para todas as suas medidas arrecadatórias, o que torna ainda mais difícil zerar o déficit primário.

Risco de interferência em empresas privadas também preocupa 4s5s65

O risco de interferência em empresas privadas também preocupa, com analistas alertando para tentativas de implementar um dirigismo estatal na economia, semelhante ao que ocorreu na Argentina e Venezuela.

A tentativa de uma postura mais ‘dirigista’ do governo ficou mais evidente na tentativa de o governo emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência da Vale, uma das maiores empresas brasileiras. Ele foi o responsável por políticas econômicas que levaram à recessão de 2015-6.

Esta postura também ficou claro nas declarações do presidente Lula, durante entrevista à RedeTV no dia 27. Ele explicitou sua convicção de que as empresas devem seguir a orientação do governo em suas decisões. “O governo quer ser o principal ator da economia”, destaca Faria.

Shikida complementa, afirmando que a visão de que a economia deve se submeter ao desejo do estado é uma frase vazia e que tem uma perigosa semelhança com a ideologia fascista. “Quem é esse ‘Estado’ cujo desejo é absoluto?”, indaga.