O economista-chefe do Nomad e professor da Faculdade de Economia e istração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Danilo Igliori, aponta que a redução nas taxas de juro deve começar nas modalidades que apresentam garantias, como empréstimos consignados e financiamentos de imóveis e carros. 6ux1d
Linhas emergenciais, como cartão de crédito e cheque especial, devem ser as últimas a terem as taxas reduzidas, diz ele. Em junho, segundo dados do Banco Central, a taxa média do rotativo do cartão de crédito para as pessoas físicas estava, em junho, em 15,04% ao mês. A do cheque, em 7,33%.
A Associação Nacional dos Executivos de Finanças, istração e Contabilidade (Anefac) calcula que, com a nova taxa Selic, uma pessoa que comprar uma geladeira de R$ 2 mil e dividir o valor em 12 vezes pagará parcelas de R$ 402,76 – antes do corte, o valor seria de R$ 405,91.
Os bancos também devem usar a redução de juros nas linhas de crédito como instrumento de marketing, diz o economista-chefe da Nomad. Ele aponta que os juros menores são uma das armas para tentar captar clientes em meio a um cenário de concorrência bancária crescente.
Dois fatores que devem dificultar uma redução mais acelerada dos juros para o tomador, segundo Igliori, são o elevado endividamento das famílias e das empresas e os efeitos sobre o crédito corporativo causados pelo episódio das Lojas Americanas, cujo rombo supera os R$ 40 bilhões, segundo auditores.
“Talvez o fator mais importante [para os juros elevados] seja mesmo a inadimplência, que é bem maior entre pessoas físicas do que jurídicas, o que inclusive explica o apelo eleitoral que propostas de redução de inadimplência têm sobre a maioria dos eleitores”, diz Shikida.
Até junho, antes do lançamento do programa Desenrola de renegociação de dívidas, 71,45 milhões de pessoas físicas estavam com o “nome sujo”, segundo a Serasa. Isto equivale a 43,78% da população adulta. Mais de 6,5 milhões de empresas, principalmente de micro e pequeno porte, enfrentavam restrições ao crédito.
O especialista do Millenium também se preocupa com a possibilidade de que alguma mudança inesperada no cenário nacional ou internacional contribua para a interrupção do ciclo da queda nos juros. “Por exemplo, caso o arcabouço fiscal se revele apenas retórica ou se houver algum outro desdobramento indesejado da agressão iniciada pelo governo russo contra o povo ucraniano”, afirma ele.