Em 12 de setembro de 2003, os cinemas americanos começavam a exibir aquele que seria considerado um dos melhores filmes do ano. Encontros e Desencontros, segunda obra dirigida por Sofia Coppola, amealhou indicações para prêmios da indústria e levou o Oscar de Melhor Roteiro Original. Seu custo de 4 milhões de dólares rendeu um faturamento que de cara ultraou os 100 milhões e os personagens vividos por Scarlett Johansson e Bill Murray ficaram eternizados nos corações dos cinéfilos. 5p6n3p

Mas como é a experiência de assistir ao filme rodado no Japão duas décadas depois? Encontros e Desencontros, disponível no pacote do Telecine e para aluguel nas principais plataformas de streaming, segue encantador. Narra as aventuras de uma graduanda de filosofia (Scarlett) que está num luxuoso hotel de Tóquio por causa de seu marido, um fotógrafo contratado para clicar uma banda de “lock and loll”. Lá, ela encontra o ator decadente encarnado pelo lendário Bill Murray, que cumpre agenda no país para divulgar o uísque Suntory.

Apesar da diferença de idade (Scarlett tinha 17 anos nas gravações e sua personagem, vinte e poucos; Murray tinha 52), essas duas almas solitárias, insones e preocupadas com os rumos de suas vidas, dão-se muito bem, a ponto de levar o espectador a acreditar que eles viverão um romance. Mas, segundo a própria Sofia Coppola, o filme em parte é sobre conexões românticas que não necessariamente se transformam em contato físico. Se os dois foram além de algo platônico, fica a cargo de quem viu o filme elaborar.

O aspecto que mais chama a atenção em Encontros em Desencontros em 2023 não é o afetivo, apesar de Sofia acreditar que a discrepância geracional entre os protagonistas dificultaria que ela realizasse seu longa nos dias de hoje. A curiosidade reside nos diversos momentos em que o espectador é convidado a rir das diferenças culturais entre Ocidente e Oriente. Numa era em que qualquer brincadeira com os povos de lá pode ser considerada grave ofensa ou “yellowface” pelos patrulheiros mirins das redes sociais, rever esse trabalho dá o dobro de prazer.

Baixinhos e cordiais demais 4w4b48

As piadas com as trocas da letra “r” pela letra “l” quando japoneses se aventuram no idioma inglês são inúmeras e extremamente saborosas. Bob Harris, o ator vivido por Bill Murray, não sabe o que fazer quando uma mulher lhe mostra sua meia-calça e ordena “lip them!” (o certo seria “rip”, de rasgar). Seu personagem também sofre com a altura do chuveiro do quarto de hotel, não adequada para americanos grandalhões. Quando entra num elevador cheio, fica com a cabeça em destaque, já que os nipônicos são bem menores.

O excesso de cordialidade e os presentes que os japoneses gostam de dar também são alvo de chacotas no filme. Ainda vale mencionar as agens em karaokês (não podia faltar!), que estão entre as mais memoráveis – tanto pelos locais cantando rocks anglo-saxônicos com pronúncia sofrível quanto por Scarlett e Murray insinuando o amor que nascia entre eles pelos versos de hits de Elvis Costello, Pretenders e Roxy Music. Não por acaso, a trilha sonora de Encontros e Desencontros é sempre lembrada em listas que compilam as melhores seleções musicais já levadas para as telonas.