Expedição Agricultura Familiar em Manhuaçu/MG, no Laboratório de analise sensorial e física de café de Manhuaçu,Produtor e degustador de café Vicente Gomes, e as produtoras de café Marilane Firmino Pires da Silva, filha, ludimila Aparecida Pires da Silva, Francielle Ferreira e a filha Emily Ferreira. Foto:Rogério Machado/Gazeta do Povo 24/10/2019

Mesmo em se tratando de pequenas propriedades, a cafeicultura movimenta um mercado milionário no caso dos cafés especiais. No Espírito Santo, por exemplo, existem 20.836 propriedades familiares de café arábica, segundo o IBGE (dados de 2017). Essas famílias produziram naquele ano mais de 53 mil toneladas do produto e movimentaram R$ 346 milhões. Em Minas Gerais, existem 112.933 propriedades familiares, que produziram, em 2017, 504 mil toneladas de café arábica, com renda total de R$ 3,6 bilhões.

Na região das Matas de Minas Gerais, onde a altitude e o microclima garantem a produção de cafés de alta qualidade, as mulheres exercem um papel importante no controle de qualidade dos produtos, especialmente na classificação dos cafés que chegarão ao consumidor. Marilane Firmino Pires da Silva, de Manhuaçu, participa de todas as etapas da produção, da colheita ao preparo do grão. Ela e o esposo tocam juntos uma propriedade de 10 hectares de café de variedades especiais. O esposo, inclusive, estava participando de um concurso quando da visita da nossa reportagem. Os finalistas seriam classificados para um leilão internacional de café. “Um dos cafés dele foi selecionado entre os dez melhores”, comemora Marilane.

""Vicente Gomes, degustador de café, e as produtoras Marilane Firmino Pires da Silva, Emily Ferreira e a mãe dela, Francielle Ferreira, de Manhuaçu (MG). Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

A cafeicultora mora no distrito de Córrego Boa Vista e integra um grupo de cinco famílias de produtores que montaram um laboratório de análise sensorial e física de café. No local, são separados os grãos com defeitos mecânicos e avaliados o aroma, o sabor e os pontos de torra ideal para cada café. Do laboratório os produtos partem já com suas notas de qualidade definidas, embalados e prontos para a venda.

Apesar de ainda terem de ar pelo crivo dos corretores de café, a nota dos grãos no laboratório costuma ultraar a casa dos 80 pontos, o que é garantia de ter um café especial nas mãos, além de influenciar os próprios corretores, que definirão a pontuação final do produto. “Hoje o grupo do laboratório é visto com bastante respeito”, afirma Francielle Ferreira, que é cafeicultora e degustadora de cafés. Segundo ela, um café comum é vendido a R$ 410 a saca na região. “Nós já conseguimos triplicar o valor dos nossos produtos”, complementa a produtora, que comercializou recentemente um lote por R$ 1,6 mil a saca.

VEJA TAMBÉM:

De acordo com Vicente Gomes, produtor e classificador de cafés – ele participa da degustação em concursos da Emater-MG e do Ministério da Agricultura, inclusive –, um bom café precisa ser “uma bebida limpa [livre de impurezas], aromática e de acidez prazerosa”, ensina o degustador, que já conseguiu produzir cafés de 97,5 pontos. Grãos acima dos 90 pontos são considerados “extraordinários”, segundo os classificadores.

""No laboratório de análise física e sensorial de café é possível classificar os produtos de acordo com suas características de qualidade. Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

Francielle, que cultiva junto com o marido 48 ha de café, conta que atua mais na pós-colheita e seleção dos cafés produzidos pela família, que obtêm maior valor comercial. As duas filhas do casal, por sua vez, parecem já ter despertado o dom para seguir o caminho dos pais e avós. “A mais velha já sabe fazer a classificação física do café e a mais nova tem uma sensibilidade incrível para identificar os sabores”, conta com orgulho a mãe coruja.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros